quinta-feira, 2 de abril de 2009

O vento quente de Ormuz


Ainda criança conheci a existência desse fenômeno! Em princípio imaginei que fosse uma invenção ou folclore. A razão de não acreditar está no lugar onde li a estória: "As viagens maravilhosas de Marco Polo".

Pensei até que fosse uma criação da autora deste livro. Entretanto, depois de décadas fiquei sabendo que esse vento é verdadeiro e é um fenômeno natural nas margens orientais do golfo Pérsico . E no estreito de Ormuz situado entre o arquipélago de Qushm e o continente asiático,
este efeito é surpreendente. A explicação para essa atividade existe, mas é muito extensa, portanto não me deterei nela. Quero enfatizar o lado mítico e fantástico do assunto, que moveu as mentes criativas de contadores de estórias, dentre estes o próprio Marco Polo.

Vou transcrever fielmente a parte do livro que li pela primeira vez aos 10 anos que só fui acreditar 20 anos mais tarde.


As Viagens Maravilhosas de Marco Polo-Lúcia Machado de Almeida.


O Vento Quente de Ormuz


" De Xiraz, a caravana desceu em direção a Ormuz no golfo Pérsico, onde Nicolo e Mafeo Polo tencionavam comprar marfim. Naquele porto, centro do comércio de pérolas e dentes de elefante, fazia um calor tremendo. Ao entrarem na cidade, pela manhã notaram uma coisa inexplicável; não havia absolutamente ninguém nas ruas. O mercado estava deserto e as casas pareciam desabitadas. Que mistério seria aquele? Os Polos dirigiram-se ao porto para ver se havia algum navio ancorado. De repente começou a soprar um vento quente, tão quente que fazia lembrar o vapor desprendido de uma chaleira em ebulição.

_Saltem n'água! Saltem n'água! gritaram muitas vozes a um tempo.
Donde viriam? Marco olhou para o mar e viu milhares de cabeças humanas que de vez em quando apareciam fora d'água, mergulhando outra vez. O vento ardente como fogo continuava a soprar queimando-lhe o corpo.

_Vamos para a água, não há outro jeito! exclamou Nicolo.

Num segundo tiraram as roupas e saltaram no mar. Só por volta do meio dia o estranho vento diminuiu. Quando passou completamente, o povo todo saiu da água e cada qual retornou às suas atividades. Os Polos souberam então que esse fenômeno era frequente em Ormuz e que o único modo de não morrer queimado era permanecer dentro do mar ou de uma lagoa, mergulhando o maior tempo possível.

Depois de fazerem bons negócios, os venezianos prepararam-se para reiniciar a jornada em direção a Pequim. A caravana aumentara, pois fora acrescida de alguns mercadores que se dirigiam a Caracorum. Eram ao todo dezoito homens e vinte camelos."

Um comentário:

Cynthia Lopes disse...

Você é também um ótimo contador de histórias, muito bom, sabe como a gente conta bem uma história? bjs