domingo, 12 de abril de 2009

Tánius de Máldor- O último xamã.


O silêncio tomou conta do templo das divindades. Somente o ruido dos passos de Ridalc e Tánius podiam ser ouvidos. Sob a luz bruxuleante das piras, os dois homens se aproximaram do altar.

Tánius sabia que todo esse ritual só era executado em função da tradição que reinava em Atlântida. As tradições mantinham as pessoas ligadas de alguma forma ao seu passado. Apesar da religião já não sustentar certas crenças, aquele ritual fazia parte da identidade cultural do povo atlante. O jovem observava o velho xamã realizando os passos e proferindo palavras que ninguém ali presente sabia o verdadeiro significado. Tánius sabia que aquelas palavras não tinham sentido prático, pois não iria acontecer nenhum prodígio e tudo terminaria em alguns minutos com a passagem do posto.


Entretanto Ridalc continuava numa espécie de transe e aquilo era sincero. De repente as labaredas das piras pararam a sua dança. A luz diminuiu. As chamas perderam o seu brilho natural pareciam estar apagadas porém acesas. Houve um murmúrio contido entre a multidão. Tánius já tinha ouvido falar desse fenômeno, mas nunca havia presenciado. As chamas mantinham-se retas acesas mas não iluminavam.


Os dois homens ficaram frente a frente. Ridalc ordenou que Tánius se ajoelhasse, ele assim fez.

Em seguida o jovem sentiu um líquido oleoso cobrir a sua cabeça e parte do seu corpo. Era a libação que fazia parte do ritual. Ainda pronunciando palavras ininteligíveis Ridalc ia derramando o líquido de uma ânfora de jade. Quando todo o conteúdo foi derramado as chamas instantaneamente voltaram ao seu brilho normal. Novamente um murmúrio tomou conta do local, o próprio Tánius sentiu o corpo mais leve e seus olhos brilhavam intensamente.


Ele não podia explicar a si mesmo o que estava sentindo. Jamais havia sentido algo semelhante. Uma espécie de desapego às coisas terrenas, ao mesmo tempo um amor incontrolável por tudo que existia no mundo e por todas as pessoas que nele habitavam. Sem saber como reagir, começou a chorar. Ridalc olhou para o moço sorrindo exclamou:

_Agora és o xamã, meu filho! tudo isso que estás sentindo, será a tua principal arma na luta contra o destino cruel que ameaça o nosso povo. E esse estado de graça durará por toda a tua vida. Mas terás que aprender a controlá-lo. O Jovem assentiu baixando a cabeça.


Os dois voltaram pelo corredor das divindades. O povo em volta das imensas colunas aplaudiam intensamente. Tánius ainda sentia aquela elevação cada vez mais forte. Caminhava, mas não sentia os seus pés tocando o solo. O seu estado de felicidade era tanto que tinha vontade de abraçar a cada uma das pessoas que ali estavam. Sentia um amor imenso e verdadeiro por cada ser vivo, por cada porção de matéria que compunha o universo. Ele era o próprio universo.


Tánius de Máldor. O último xamã.

Um comentário:

Cynthia Lopes disse...

Ih, a história continua, ótimo, adorei. Bjs