sábado, 24 de abril de 2010

Machu-Picchu. Alguém atrás da porta.


Fotografia feita por Hiram Bingham enquadra o corajoso Melchor Arteaga
atravessando descalço a "puente" sobre o violento Urubamba.


Segunda parte.

Pouco ou quase nada de descanso, foi o suficiente para Hiram e Melchor. Os motivos de um eram diferentes do outro, mas ambos não conseguiam esconder sua excitação. O jovem cientista plantou-se petrificado olhando a água batendo com força nas pedras.
As vezes parecia que as ondas provocadas pela correnteza iriam levar a ponte precária. Melchor parecia calmo e deixou as mochilas cairem aos seus pés. Hiram olhou-o com estranheza e perguntou: - Não vamos precisar disso também? O índio parecia estar absorto, mas respondeu depois de alguns minutos: O senhor vai precisar sim doutor! mas agora vamos passar ponte sem peso!
Hiram não chegou a responder, pois ainda falando, Melchor colocou os sapatos nos ombros e iniciou a travessia. Hiram fez uma foto do homem que mais parecia um macaco atravessando o rio rapidamente. Minutos depois foi a vez do professor. Ele não conseguiu ficar de pé sobre os troncos molhados, nem agachado como Melchor. Durante quase 15 minutos Hiram se arrastou agarrado com toda sua força na velha ponte. O trajeto de 30 metros que Melchor levou alguns segundos para atravessar, quase matou o jovem arqueólogo do coração.
Na outra margem pouquíssimo espaço havia para um acampamento, na verdade quase não havia espaço para os dois grandalhões ficarem lado a lado. Melchor certificou-se da segurança do cientista e em seguida retornou para a margem de onde haviam partido.
Hiram abriu os braços e perguntou: - Mas o que você está fazendo? Melchor retornou em segundos já com a mochila nas costas.
- Porque você não trouxe a mochila na primeira vez então?
- Eu tinha que ter certeza que ponte aguentaria meus 100 quilos, mais os 50 da mochila. Quando atravessei na primeira vez bati os pés com força. Senti que a madeira estava bem firme!
Hiram não entendeu muito bem a tática do outro, mas resolveu não contestá-la, afinal o índio esteve certo até aquele momento porque não estaria agora.
Mal sabia o cientista que apenas 600 metros morro acima o separava da cidadela perdida dos incas. O Urubamba rugia através da selva, serpenteando entre paredões de granito. Melchor tirou o facão da cintura e agilmente começou a abrir caminho na densa vegetação. A mata naquele ponto era tão fechada que os dois mal conseguiam avançar alguns centímetros para dezenas de golpes do facão. Mas aos poucos eles iam subindo, até que ao cabo de uma hora e meia encontraram um antiga trilha equipada com degraus de pedra. Naquele ponto a floresta não tomava conta de todo o caminho, então para felicidade dos dois aventureiros, o progresso era visível.

De repente o caminho ficou mais estreito e tiveram que passar pelo meio de duas rochas talhadas. Melchor olhou para trás e disse: - Esse é o primeiro portal! Hiram não conseguiu ver bem, pois a mata cobria grande parte da estrutura, mas para ele aquilo pareceu mais uma abertura numa espessa muralha.
Aquela subida já havia consumido três horas daquela manhã chuvosa de 1911. Hiram perguntou quando iriam descansar, ao que Melchor respondeu: -Podemos descansar perto do segundo portal, que aliás é aquele ali! O índio parou apontando para um muralha pequena que atravessava o caminho.

Continua.

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