terça-feira, 19 de maio de 2009

Hefestos. Arte e sofrimento.


Hefestos ou Hefaistos foi o primeiro artista frustrado que se tem notícia. Realmente um sujeito sem sorte. Ao nascer da deusa Hera, foi imediatamente abandonado pela mãe que se decepcionou ao vê-lo aleijado. Assim sendo ainda um bebê foi banido do Olimpo.Mas apesar de sua aparência grotesca e toda a sua tendência ao azar, Hefestos possuía muitas qualidades. E Assim que começou a andar já demonstrou uma grande aptidão ao trabalho e às atividades artesanais. Ainda adolescente recebeu de Zeus a encomenda de modelar uma bela mulher em argila. A sua sensibilidade e talento artístico fizeram com que de suas enormes mãos nascesse a belíssima Pandora.


A formosa jovem recebeu dos deuses todas a graças possíveis. Do gigante disforme Hefestos, recebeu um belo corpo, de Afrodite a beleza eternamente juvenil, de Apolo o talento para a música e poesia e finalmente de Dionísio recebeu a alegria de viver. Entretanto teria ainda algo reservado à linda moça. Zeus em sua dúbia bondade ordenara a Hefestos que forjasse uma caixa e lhe entregasse antes que Aurora alcançasse a planície em sua corrida sem fim. Hefestos trabalhou em companhia do seu fogo durante aquela noite. Antes que sua irmã Aurora passasse pelo seu atelier subiu o Olimpo e depositou aos pés do grande rei, a pequena caixa ricamente adornada.

Zeus sorriu e de tanta gratidão entregou ao artista coxo a mais bela mulher do universo para que este a desposasse. Ninguém menos que Afrodite caía nas mãos do tosco ferreiro.


Com essas ações, Zeus colocou a humanidade sob a sua satírica experiência. Acabava de criar juntamente com Pandora, aquilo que homens e mulheres jamais se livrariam, a curiosidade. E ao juntar dois seres tão diferentes, a deusa da beleza e um monstrengo claudicante, Zeus condenou todos o mortais a escolherem entre o sacrifício da vaidade ou a infidelidade. Uma eterna dúvida que até nos dias de hoje atormentam muitos casais.


Hefestos continuou seu eterno martelar forjando coisas e pessoas. Afrodite lhe traía diariamente. Ela era a Deusa do amor e da beleza, jamais poderia sacrificar sua vaidade, preferiu traír o pobre aleijado. As duas obras primas de um artista frustrado, lhe valeram eterna humilhação e sofrimento.

sábado, 2 de maio de 2009

Sete Povos das Missões - O Mito Guaraní


Qual teria sido a verdadeira motivação para dois inimigos históricos esquecerem todas as diferenças e unirem-se para atacarem um terceiro inimigo? Que poder imenso possuía este, ao ponto de Portugal e Espanha juntarem seus exércitos?

As duas potências não temiam o poder bélico de um exército de indígenas. Nem poderiam temer, meia dúzia de missionários que estavam mais preocupados em disseminar a fé cristã, do que qualquer outra coisa. O maior temor que os reis de além mar tremiam só de lembrar, era o poder de uma idéia nova que surgia naquelas terras distantes.


A estrutura de uma sociedade na época, não passava de feudalismo disfarçado em monarquia. Entretanto do outro lado do Atlântico, emergia das pampas e das savanas sul americanas uma sociedade altamente desenvolvida. Uma sociedade cheia de realizações tanto no campo filsófico, como no industrial. Baseadas na produção agropastoril, as Reduções Jesuíticas agregavam um desenvolvimento tecnológico sem similar no velho mundo. Juntamente com a metalurgia, floreciam uma produção artística e uma completa estrutura educacional comparáveis às existentes na Europa.


Essa idéia deveria ser eliminada totalmente. Não somente estirpada, mas sepultada em todos os níveis. As duas potências pressionaram a Igreja que por sua vez decidiu pela morte de todos os padres e índios missioneiros. A participação dos Cardeais foi decisiva, pois eles forneceram a localização das Reduções em detalhes.


Canhões e mosquetes contra lanças e flechas de madeira. Resultou em mais de 500.ooo indígenas, entre adultos, velhos e crianças "selvagemente" trucidados.. O episódio só se compararia à última das guerras Púnicas entre Roma e Cartago. Tal como a grande capital de Aníbal, as reduções foram destruídas, seus rebanhos e plantações saqueados e muheres com crianças mortas como se fossem animais no abate. Nada, além de ruinas sobrou para que a história fosse contada. O sonho de uma sociedade democrática somente voltou a ser ventilado 150 anos depois. A civilização Guaraní vive na memória do sul do Brasil. Os sete Povos das Missões guardam suas ruinas como uma bandeira que nunca mais foi hasteada.